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Rússia diz que Sputnik V é segura e escancara disputa política pela descoberta da vacina

Na sequência, republicou uma crítica que havia feito na véspera, quando respondeu à declaração conjunta de empresas farmacêuticas que [...]

Por Administrador em 09/09/2020 às 16:19:53

Na sequência, republicou uma crítica que havia feito na véspera, quando respondeu à declaração conjunta de empresas farmacêuticas que desenvolvem vacinas contra a Covid-19, na qual elas se comprometiam a obedecer a protocolos de segurança rígidos.

Dmitriev questionou a segurança das vacinas que utilizam "tecnologias não comprovadas", como o uso de adenovírus de macacos para levar código genético do Sars-CoV-2 ao paciente e estimular uma resposta imune.

A vacina russa, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, utiliza dois adenovírus humanos, o Ad5 e o Ad26, em doses distintas.

Desde seu lançamento, Dmitriev insiste em que a existência de um imunizante aprovado contra o ebola e outro em estágio avançado contra a Mers (doença semelhante à Covid-10, mas mais letal) que usam os mesmos vetores provam a segurança da Sputnik V.

No primeiro estudo publicado sobre o imunizante russo, sobre os 76 pacientes das fases 1 e 2 de testes, são listados 250 estudos sobre o uso de adenovírus humanos em vacinas.

"Embora seja bem-vindo, acreditamos que esse compromisso de algumas empresas farmacêuticas é insuficiente, porque ele não discute a falta de estudos de longo prazo sobre efeitos carcinogênicos e impacto na fertilidade de novas tecnologias de vacinas, como as plataformas baseadas em vetores de RNA mensageiro (caso das americanas Pfizer e Moderna) e adenovírus de macaco (Oxford)", disse.

O Gamaleya sustenta que o uso do adenovírus humanos é o mais "orgânico", já que o patógeno convive com pessoas há mais de 100 mil anos. Outras vacinas, como a chinesa Coronavac em teste para produção em São Paulo, usam um método tradicional de buscar a imunização, com o Sars-Cov-2 inativo.

Os russos consideram que isso permitiu o acelerado cronograma da Sputnik V, anunciada como a primeira vacina registrada no mundo contra o novo coronavírus.

Ela ganhou registro provisório do Ministério da Saúde local sem ter iniciado os estudos da fase 3, aquela em que grandes grupos são vacinados e colocados em comparação com outros expostos a placebo.

A prática foi criticada por toda a comunidade científica mundial, mas teve muito de propaganda na prática. Apesar de a Rússia ter anunciado a produção do primeiro lote de Sputnik V nesta semana, quem exatamente poderá ser vacinado, e quando, é incerto.

Tudo o que se sabe é o que o ministério afirmou, a intenção de vacinar profissionais da saúde em paralelo à fase 3. A China faz algo semelhante com seus militares. Dmitriev, por sua vez, falou em início de imunização em outubro ou novembro.

A modulação de discurso veio com anúncio de que a fase 3 contaria com 40 mil voluntários -nesta quarta, o governo anunciou que 31 mil já haviam sido arrolados e que os testes começaram.

Mais importante, houve enfim a publicação dos primeiros dados sobre a Sputnik V na prestigiosa revista científica britânica The Lancet.

Ali se mostra um imunizante 100% eficiente e com efeitos colaterais negligenciáveis. Mas mesmo os otimistas do Gamaleya ressaltam, no texto, que é preciso mais testes para saber a extensão da imunização e descartar riscos.

Mas mesmo esse estudo sobre as fases 1 e 2 foi questionado por um grupo de cientistas em uma carta aberta ao Gamaleya e à Lancet divulgada na segunda (7).

Segundo eles, há resultados estranhamente duplicados entre participantes dos testes. Denis Lugonov, principal autor da pesquisa, disse que não foi questionado pela Lancet, e a revista por sua vez afirmou que estimula o debate.

Mas o que vale, ao fim, é a política da vacina. Do ponto de vista estritamente dessa disputa, há uma enorme coincidência no "timing" tanto da divulgação do comunicado das farmacêuticas, antes de o primeiro problema sério de Oxford ser divulgado, quanto da crítica dos russos.

Isso sem falar no anúncio do acordo russo com o México. A previsão é de que as entregas comecem a ser feitas em novembro de 2020, caso as autoridades locais aprovem a vacina. A distribuição vai ser feita com a farmacêutica mexicana Landsteiner Scientific.

Os russos dizem que 40 países já os consultaram sobre a vacina. No Brasil, há um acordo para testagem a ser realizada no Paraná com o governo do estado, e a Bahia também está fechando arranjo semelhante.

Aqui, a disputa política em torno da vacina se desenhava entre aqueles que já protagonizavam antagonismo na condução do combate à pandemia: o presidente Jair Bolsonaro e seu viés negacionista e o governador João Doria (PSDB-SP), com discurso pró-ciência.

Ambos associaram entes sob seu comando a uma das vacinas. O governo federal fez um acordo para produzir 100 milhões de doses da vacina de Oxford na Fiocruz, enquanto o paulista fez parceria com a chinesa Sinovac para a mesma quantidade via Instituto Butantan.

Apesar do investimento, Bolsonaro tem estimulado um discurso ambíguo sobre o eventual imunizante, ressaltando que ninguém será obrigado a receber a vacina. Assim, é incerto o impacto de um eventual problema maior com o imunizante de Oxford para a imagem do presidente.

Doria, por outro lado, virou garoto-propaganda da vacina chinesa, fazendo postagens otimistas sobre seus testes em redes sociais. Tanto o tucano quanto Bolsonaro tiveram Covid-19, assintomática para o governador e leve para o presidente.

Fonte: Banda B

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