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Os filhos de Juventina - Décimo terceiro livro de Ricardo Medeiros - A obra está em pré-venda pela editora Dois Por Quatro com 50% de desconto

Pobreza, racismo, crianças separadas na infância, mortes e a volta por cima. Estes são alguns dos elementos do enredo do novo livro do jornalista Ricardo Medeiros

Por Administrador em 21/11/2024 às 14:20:19

A obra gira em torno da personagem Juventina, mulher de um metro e meio de altura, olhos castanhos, magrinha. Cafuza, resultado da miscigenação entre indígenas e negros, sua pigmentação de pele era escura e possuía cabelos lisos, presos em forma de coque, puxados para trás e amarrados no alto da cabeça. Aos 16 anos, casou-se com o viúvo Manoel Florêncio, 40, ex-escravizado. A união se deu no limiar do século 20, em 10 de abril de 1905. No ano seguinte, Juventina gerou o primeiro filho. Depois, vieram mais oito. Sem condições financeiras, o casal entregou dois deles para outras famílias. O caçula nasceu quando Juventina já contava 43 anos, e omarido, lavrador, 66.

Como promete o título do livro, Ricardo Medeiros vai desfiando a trajetória de cada filho de Juventina, como Maria dos Prazeres, que, aos 8 anos, vai trabalhar em uma residência em troca de alimentação e roupa. Ficou pura até os 37 anos, quando conheceu Alfredo, viúvo, 47 anos, que havia participado da Segunda Guerra Mundial. O casamento de mulher preta com o homem branco resultou no nascimento de duas crianças.Da mãe Juventina, herdou os dons de parteira ebenzedeira.

Já Maria Appolinária, com o mesmo nome da avó materna, era faxineira num grupo escolar. Grávida, pereceram na mesa de cirurgia ela e o bebê.José, conhecido por Juca, num sábado, 20 de setembro de 1958, foi até um bar. Um desafeto do irmão, Chico, quis que ele bebesse um gole de cachaça. Com a negativa, o homem, um policial, sacou do revólver e disparou contra o indefesoJuca. O filho de Juventina caiu morto às 8 horas da noite. Tinha 27 anos, era casado, pai de três crianças.

Sebastião foi coroinha, uma atração para a cidade que possuía 22.947 pessoas brancas e apenas 585 negras. Concluiu os quatro anos do primário e foi além, completou mais três de escolarização. Desta maneira, em 1946, teve o direito ao título de "Professor Complementarista".

A partir de então, poderia ensinar a ler e a escrever os estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental. Pelo caminho, ouviu diversos xingamentos racistas. Sofreu a perseguição da família da namorada, branca: "Seu negro, você não se enxerga? Não criei filha para namorar com preto."

Em 1952, tornou-se policial militar. A solteirice acabou quando cruzou o seu caminho uma garota branca, Margarida, a Margaridinha.A jovem cometera o "erro" de ser mãe solo. Havia tido uma menina, aos 16 anos. Aceitando o passado da companheira, uniu-se oficialmente à Margarida em 7 de junho de 1956.Com ela, teve 9 filhos mestiços, o mesmo número de crias de Juventina e Manoel.

Mulher feita, 24 anos de idade, Zeni conheceu o futuro marido em 1950, filho de polonês com uma negra brasileira. Logo Zeni engravidou. Ao chegar a hora do parto, passou mal e foi levada para o hospital. Na luta travada para salvar o bebê e a mãe, a criança faleceu. Adotaram um menino, que ganhou uma irmã. Com duas crianças pequenas Zeni viu-se sozinha, uma vez que o companheiro aabandonara. Por necessidade, virou cozinheira. Dedicou-se ao ofício e passou a ser uma referência na área de gastronomia.

João Luiz teve dois filhos com a esposa. Aos 26 anos de idade, em 1932, lutou na Revolução Constitucionalista, um levante armado iniciado em julho daquele ano.O movimento era liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio Vargas que centralizava o poder.

Francisco, o Chico, era considerado um tio divertido e sorridente para os filhos de Sebastião. Casou-se com uma senhora de nome Ana. Amou e criou como se fossem seus os cinco filhos dela. Pegando o violão emprestado do irmão, cantarolavas modinhas para os sobrinhos. Era uma festança unindo adultos e crianças.

OS IRMÃOS PERDIDOS

Ricardo escreve sobre o reencontro, 50 anos mais tarde, de Sebastião, Zeni, Chico e João com Conceição, que havia sido dada para outra família, assim como Gaudêncio. A aparência lembrava a irmã, Maria dos Prazeres, a Prazera. Estatura baixa, cabelos totalmente brancos e uso de óculos de grau. Estava um pouco acima do peso. Via com certo estranhamento Margarida, talvez estivesse impactada pelo irmão caçula, Sebastião, ter se casado com uma mulher branca.

Com o seu faro investigativo, Sebastião queria localizar também Gaudêncio.Fez várias ligações até conseguir saber o paradeiro dele. Começou a planejar a viagem. De repente, a alegria virou tristeza, veio a notícia do falecimento do irmão, com quase 85 anos.

HORA DA PARTIDA

O autor refaz em detalhes os últimos dias de Juventina, em maio de 1976. A movimentação era grande na casa de Zeni. A hora da partida estava chegando. Havia revezamento dia e noite de pessoas que ficavam de vigília. Chovendo e fazendo frio, Juventina fechou os olhos para sempre faltando quinze minutos para uma hora da madrugada de sábado, dia 22 daquele mês.

O médico atestou que Juventina Antônia de Medeiros, aos 87 anos, teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A notícia se alastrou pela região com a leitura de nota de falecimento pela Rádio Líder.

Os vizinhos foram chegando. A filha Prazera não resistiu à emoção. Ao caminhar pela estrada enlamaçada, rumo ao velório, desabou em lágrimas no chão.Rodeada pelos pequenos de Margarida, Zeni contemplava a mãe dentro do caixão. "O que vai ser de mim sem a minha mãe para ouvir meus lamentos".

O autor descreve a cena em que Sebastião desce as escadas de acesso principal à casa amparado por duas filhas. Enxugava as lágrimas que corriam teimosamente. Era visível que estava abatido e que a perda da mãe atingira seu coração. Sangrava pela saudade da pessoa de maior influência em sua vida. Hora de Juventina se encontrar com o marido Manoel, com quem se casou mocinha. Hora de rever os filhos Juca e Maria Appolinária.

PRÉ-VENDA

Os filhos de Juventina é o décimo terceiro livro de Ricardo Medeiros. A obra já está em pré-venda pela editora Dois Por Quatro (https://www.doisporquatro.com/os-filhos-de-juventina) com 50% de desconto. O jornalista e escritor também é autor de Aldírio Simões: o manezinho-maior (2023) e Uda Gonzaga: a primeira-dama do morro da Caixa (2022).

SOBRE O AUTOR

Ricardo Leandro de Medeiros é filho de Sebastião e Margarida, veio ao mundo pelas mãos da avó Juventina, em 4 de setembro de 1963. Irmão de Raquel, Roseli (Rose), Rejane (Jane), Roberto (Beco), Rudiberto (Rudi), Rosana Bruna, Ivan, Ivana e Renato (Naco). Estudou durante o primário na Escola Lúcia do Livramento Mayvorne, no popular Morro da Caixa (1971-1974), e cursou a quinta série na Escola Lauro Muller (1975), estabelecimentos de ensino de Florianópolis.

De retorno com a família para o meio-oeste catarinense, em Herval d"Oeste, foi matriculado na Escola Melo Alvim (1976), concluindo o ensino fundamental no Colégio São José (1977-1978). Cursou o antigo segundo grau no Colégio Cristo Rei (1979-1981), em Joaçaba, município vizinho a Herval.

Formado em Jornalismo, em 1986, na Universidade Federal de Santa Catarina, tem mestrado e doutorado pela Le Mans Université, França. É a 13ª obra do escritor, que lançou Aldírio Simões: o manezinho-maior (2023), Uda Gonzaga: a primeira-dama do Morro da Caixa (2022), bem como Quatro Mulheres (2020). Já lecionou em três instituições de ensino superior: Unisul, Estácio SC e UFSC.

É assessor de Comunicação da Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis.

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