ALESC 10-05 08-06

Tribunal acata denĂșncia dos respiradores e MoisĂ©s serĂĄ afastado pela 2ÂȘ vez

Por Administrador em 27/03/2021 às 00:58:54

Por 6 votos a 4, o Tribunal Especial de Julgamento acatou a denĂșncia contra o governador Carlos Moisés da Silva (PSL) no caso dos respiradores, em sessão encerrada no fim da noite da Ășltima sexta-feira (26). Com a decisão, Moisés serĂĄ temporariamente afastado do cargo por até 120 dias e julgado por crime de responsabilidade pela aquisição fraudulenta dos 200 ventiladores pulmonares artificiais, em março do ano passado. A vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) assumirĂĄ interinamente o comando do Estado na próxima terça-feira (30).

Eram 23h32 quando o presidente do tribunal, desembargador Ricardo Roesler, proclamou o resultado, após mais de 12 horas de sessão. "O momento reclama comprometimento", disse o magistrado. "Rogo a todos que mantenham esse espĂ­rito elevado. É preciso resgatar esse espĂ­rito de pertencimento do povo catarinense."

A sessão começou por volta das 9 horas, com a homenagem do presidente do tribunal aos profissionais da saĂșde que atuam na linha de frente do combate à Covid-19. Roesler lembrou que, justamente pelo agravamento da pandemia, a sessão foi realizada de forma remota. O desembargador também deixou sua solidariedade às vĂ­timas da doença. Outros julgadores também se somaram à manifestação, no decorrer da sessão.

A denĂșncia apreciada pelos julgadores apontava possĂ­vel cometimento de crime de responsabilidade pelo governador na compra dos 200 respiradores não entregues, na tentativa de contratação do hospital de campanha que seria instalado em ItajaĂ­, na prestação de informações falsas à CPI dos Respiradores e na não adoção de procedimentos administrativos contra os ex-secretĂĄrios de Estado Helton Zeferino (SaĂșde) e Douglas Borba (Casa Civil). Apenas o ponto referente aos respiradores foi acatado pelos julgadores.

EstĂĄ é a segunda vez que Moisés é afastado da chefia do Executivo estadual. No ano passado, entre outubro e novembro, ele também foi afastado em função do processo de impeachment referente ao reajuste dos procuradores do Estado. No julgamento, ele foi absolvido e retornou ao cargo.

Os votos
Após a manifestação dos advogados de acusação e de defesa, a relatora, a desembargadora Rosane Wolff, proferiu, por quase duas horas, o voto, no qual recomendou o acatamento da denĂșncia, excluindo a questão relacionada à tentativa da contratação do hospital de campanha de ItajaĂ­.

Segunda julgadora a votar, a desembargadora Sonia Schmidt considerou que cabia julgar Moisés pela compra dos respiradores, descartando os demais pontos da denĂșncia. Ela reforçou a tese de que houve omissão do chefe do Executivo na questão dos respiradores.

O deputado Marcos Vieira (PSDB) foi o primeiro parlamentar a apresentar seu voto e rejeitou a denĂșncia. Ele considerou que Ministério PĂșblico de Santa Catarina (MPSC) e PolĂ­cia Federal (PF) afastaram a responsabilidade direta de Moisés na compra dos respiradores. "Se o JudiciĂĄrio absolver o governador, não teremos condições de devolver o seu mandato", disse Vieira.

O desembargador Roberto Lucas Pacheco foi o quarto julgador a se manifestar e acatou a denĂșncia nos pontos referentes aos respiradores e à prestação de informações falsas à CPI. "Ainda que o ordenador direto da despesa tenha sido o secretĂĄrio da SaĂșde, a omissão do governador deve ser considerada relevante", afirmou o magistrado.

Na sequĂȘncia, o deputado José Milton Scheffer (PP) votou contra a deliberação da representação e considerou Moisés vĂ­tima da "difĂ­cil tarefa de manter a governabilidade". Para ele, o governante não tem como acompanhar detalhes de todos os processos de compra do Estado. "Isso compete aos secretĂĄrios, superintendentes e diretores". O deputado também apelou pela manutenção da estabilidade polĂ­tica do Estado, num momento delicado como o atual.

Sexto a se manifestar, o desembargador Luiz Zanelato votou pelo recebimento da denĂșncia na questão dos respiradores. Para ele, na condição de governador, Moisés não teria como fiscalizar todos os atos de seus subordinados diretos, mas, por ter conhecimento da compra dos ventiladores, o governador deveria ter agido. "HĂĄ expressivos indĂ­cios de que o denunciado tinha conhecimento [da compra dos respiradores] e deveria evitar a concretização da operação, feita sem as devidas exigĂȘncias legais", comentou.

JĂĄ era noite quando o deputado Valdir Cobalchini (MDB) votou contra o acolhimento da denĂșncia. Relator da comissão especial do impeachment na Alesc, o parlamentar afirmou que, da anĂĄlise inicial da representação, em outubro, até hoje, procedimentos feitos pela polĂ­cia e pelo Ministério PĂșblico apontaram que "não é possĂ­vel afirmar com segurança que Carlos Moisés teve ciĂȘncia dos aspectos mais especĂ­ficos da compra dos respiradores."

O deputado Fabiano da Luz (PT) foi o próximo a votar. Ele relembrou que votou pela abertura do processo de impeachment e afirmou que decisões do Tribunal de Contas do Estado (TCE), no Ministério PĂșblico e da PolĂ­cia Federal o fizeram mudar de ideia. "HĂĄ de se ter cautela quando estamos com martelo [de juiz] na mão", ponderou. "Noto a falta de provas da participação do governador, bem como que ele tenha se beneficiado dessa compra", completou.

PenĂșltimo a se manifestar, o desembargador Luiz Fornerolli afirmou que decisões do MP e da PF não poderiam ser utilizadas no julgamento do impeachment, por se tratarem de outras investigações. O magistrado citou nove evidĂȘncias que o levaram a votar pelo acolhimento da denĂșncia no caso dos respiradores e da prestação de informações falsas à CPI da Alesc. "Tenho enorme tristeza em chegar a essa conclusão, mas a função me impõe", concluiu.

O Ășltimo julgador a votar, o deputado Laércio Schuster (PSB) definiu o placar pelo afastamento de Moisés e o prosseguimento do processo de impeachment. Ele afirmou que Moisés se colocou na posição de lĂ­der no combate à doença e, por isso, "deveria ter tido um zelo que não teve". Para o parlamentar, hĂĄ indĂ­cios suficientes para se processar o governador. "Por que deverĂ­amos nos furtar de investigar?", questionou Laércio, que votou pelo acolhimento da denĂșncia dos respiradores e da não responsabilização dos ex-secretĂĄrios.

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