ALESC 10-05 08-06

Santa Catarina, o berço da urna eletrônica

Por Administrador em 30/08/2022 às 16:40:29
O desembargador aposentado Carlos Prudêncio e um dos computadores usados nas experiências de informatização do voto, nos anos 1980 FOTO: Rodolfo Espínola/Agência AL

O desembargador aposentado Carlos Prudêncio e um dos computadores usados nas experiências de informatização do voto, nos anos 1980 FOTO: Rodolfo Espínola/Agência AL

Alvo de polĂȘmicas, a urna eletrônica pode ser considerada uma invenção catarinense. Partiu de um juiz eleitoral da comarca de Brusque, nos anos 1980, a iniciativa de informatizar os processos de votação e de totalização dos votos.

Pai da urna eletrônica, o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) Carlos PrudĂȘncio recorda que em 1982, quando era juiz eleitoral em Joaçaba, pediu emprestado um dos poucos computadores da região. O objetivo era utilizĂĄ-lo na totalização dos votos, para que a divulgação dos resultados fosse mais ĂĄgil.

"Se falava muito em fraudes, não em Santa Catarina, mas em outros estados, e nós terĂ­amos que inventar algo que evitasse essas fraudes e acabasse com a lentidão", disse.

Quando foi transferido para a comarca de Brusque, ainda nos 1980, PrudĂȘncio repetiu a experiĂȘncia, que repercutiu positivamente pela agilidade na divulgação dos resultados. Mas seu objetivo era ir além e iniciar a informatização também do processo de votação.

Para as eleições municipais de 1988, desenvolveu o primeiro sistema de votação eletrônico, que seria testado em uma seção eleitoral de Brusque. No entanto, a iniciativa foi proibida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

"Fui ao presidente do TRE falar do que seria feito em Brusque. Mas ele me proibiu de lançar o voto eletrônico", relembra.


PersistĂȘncia

Reportagem do Jornal de Santa Catarina, de 16/11/1989, sobre a experiĂȘncia em Brusque

Reportagem do Jornal de Santa Catarina, de 16/11/1989, sobre a experiĂȘncia em Brusque


No ano seguinte, 1989, o Brasil realizou a primeira eleição direta para presidente de RepĂșblica desde o regime militar. Dessa vez, PrudĂȘncio ousou e não pediu autorização do TRE para realizar o teste com aquela que seria a primeira urna eletrônica do paĂ­s. Os escolhidos foram os 373 eleitores da 90ÂȘ seção da quinta zona eleitoral.

"Em uma seção de Brusque, fizemos o teste. Os eleitores votaram com a cédula de papel e também no computador. Fiz tudo silenciosamente, à revelia do TRE", recorda.

Além de não contar com a anuĂȘncia da Justiça Eleitoral no estado, PrudĂȘncio lembra que vĂĄrias empresas, algumas delas de grande porte, negaram-se a colaborar com o experimento. Poucos foram os apoios, entre eles do irmão Roberto PrudĂȘncio e dos servidores do fórum de Brusque. Uma empresa de computadores de Blumenau e um escritório de contabilidade também foram importantes na empreitada.

A experiĂȘncia desenvolvida em Santa Catarina ganhou destaque na imprensa nacional. Em 1990, nas eleições para governador e deputados, ela foi ampliada após ser avaliada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Diretores de TREs de outros estados também foram a Brusque para conhecer a novidade.

Iniciativa teve repercussão nacional e levou o então presidente do TSE a ir a Brusque, em 1990

Iniciativa teve repercussão nacional e levou o então presidente do TSE a ir a Brusque, em 1990


No dia do primeiro turno do pleito de 1990, o então presidente do TSE, Sidney Sanches, foi à cidade para conhecer o sistema eletrônico. Os jornais da época noticiaram que o dirigente considerou a novidade algo "prĂĄtico e confiĂĄvel", além de representar o primeiro passo para a informatização completa do processo eleitoral brasileiro.


Expansão
Em 1991, Cocal do Sul, no Sul de Santa Catarina, realizou o plebiscito para decidir pela emancipação de Urussanga. Todo o processo de votação, conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi realizado em microcomputadores adaptados pelo TRE. Ao invés do teclado convencional, foi instalado um menor, composto por apenas seis botões: corrige, sim, não, branco, nulo e confirma.

Outros municĂ­pios catarinenses passaram a experimentar a urna eletrônica. Em 1994, no segundo turno das eleições para governador, cinco seções de Florianópolis contaram com a novidade, que teve o reconhecimento do então presidente do TSE, ministro SepĂșlveda Pertence. À época, ele afirmou que "para acabar de vez com as fraudes nas eleições é necessĂĄrio informatizar o voto".

Em 1995, ocorreu a primeira eleição totalmente informatizada da história do Brasil. Em Xaxim, no Oeste catarinense, 12.204 eleitores participaram do processo suplementar, necessĂĄrio após o falecimento do prefeito e a renĂșncia do vice. Em menos de 40 minutos após o encerramento da votação, os moradores conheceram o resultado, com a vitória de Edemar Mattiello.

Convencido da eficĂĄcia e da segurança da urna eletrônica, em 1996, o TSE realizou eleições informatizadas em todos os municĂ­pios brasileiros com mais de 200 mil eleitores, além de Brusque, em reconhecimento ao pioneirismo do municĂ­pio na informatização do voto. Quatro anos depois, em 2000, o Brasil realizou a primeira eleição 100% informatizada.


(Entrevista de Maria Helena Saris, da TVAL, e texto de Marcelo Espinoza, da AgĂȘncia AL)

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